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- Great Kat: "Eu sou o último gênio da música!"
Por Fernando Souza Filho
18 de outubro de 2007
Completamente maluca. Não existe outra definição para quando se depara pela primeira
vez com o trabalho da guitarrista Great Kat. E essa definição adquire tonalidades ainda
mais patológicas quando se entrevista a moça. Ela fala numa velocidade que exige
concentração para acompanhar, mesmo para quem já tem muita experiência no contato com
a língua inglesa. Ela grita, dá gargalhadas, grita mais alto, fala que é uma deusa que
precisa ser adorada, berra que é uma espécie de reencarnação de Beethoven e, com sua
típica modéstia, considera-se uma gênia da guitarra. Yngwie
Malmsteen vira um monge franciscano perto dela.
Porém, ninguém pode negar o talento de Kat. Violinista profissional graduada pelo
mundialmente famoso Conservatório Juilliard, de Nova York, ainda no início dos anos 90
ela decidiu fazer versões para a guitarra de clássicos da música erudita, especialmente
Beethoven, Bach, Paganini, Mozart e Wagner. E isso, caro leitor, ela realmente faz como
poucos. De lá pra cá, lançou diversos singles, mini-álbuns e EPs, mas nenhum álbum
propriamente dito, pois acha isso uma perda de tempo. E foi justamente
perguntando sobre isso que começamos nosso bate-papo com Kat, exatamente como fizemos há
11 anos, em entrevista publicada numa edição de 1996 da Rock Brigade.
Eu continuo pensando como há uma década: CDs, DVDs e qualquer forma de
entretenimento precisam ser rápidos e excitantes, diretos ao ponto. Num mundo globalizado
pela internet, em que as pessoas mal têm tempo para ver um clipe no YouTube, tudo tem que
ser muito rápido para não entediar o público, grita ela, com sua histeria
habitual. É por isso que Extreme Guitar Shred é tão direto assim também.
Extreme Guitar Shred é o novo DVD da guitarrista, que também segue a linha de seus EPs e
é bem curto, com apenas seis clipes e aquelas encheções de lingüiça de
sempre: galeria de fotos e link para o site. Quem quiser mais vai ter que esperar
pelo próximo DVD, que vai investir mais no neoclássico e terá uma versão para Caprice
#24, de Paganini. Uma prévia desse trabalho já está até em meu site, inclusive com o
vídeo de The Flight Of The Bumblebee. Também haverá vídeos de Brandenburg Concerto #3,
de Bach, Csardas, The Art Of The Fugue, também de Bach. Ou seja, as obras-primas de
sempre da insana Kat, berra ela.
Kat costuma colocar mais do que prévias de seus DVDs em seu site e, em alguns casos,
chega a disponibilizar a íntegra de seus lançamentos. Ela já investia nesse tipo de
interação desde 1996, quando lançou seu primeiro CD-ROM, e continua acreditando muito
nas inovações tecnológicas. A internet está forçando todo mundo a estar sempre
atualizado e eu procuro sempre investir cada vez mais nas tecnologias de entretenimento.
Esse é o futuro, cara, quem não fizer isso vai desaparecer!, esgoela-se ela.
Mas quando a gente pensa que a moça já está elétrica o suficiente, resolvemos falar do
vídeo Zapateado e aí ela enlouquece de vez. Ocorre que o vídeo é altamente
patriótico, com bandeiras dos Estados Unidos para todos os lados (a foto ao lado foi
tirada do vídeo) e muitas mensagens de amor à América. O detalhe é que Kat, na
verdade, nasceu na Inglaterra. E daííí? E daííí?, berra ela,
demonstrando precisar urgentemente de um barril de Maracujina, especialmente quando surta
de vez e desanda a falar na terceira pessoa. A Great Kat nasceu em Swindon, uma base
militar da Força Aérea Americana na Inglaterra, mas ela veio com 3 anos de idade para os
Estados Unidos. Então, Great Kat agora é cidadã americana! Cidadã americana!!!
Zapateado mostra o virtuosismo fenomenal de Kat ao violino, além de sua velocidade
incrível na guitarra e seu patriotismo glorioso. O vídeo também mostra documentos e
figuras históricas, além do famoso poster do Tio Sam. Zapateado é um arranjo brilhante
de Great Kat para a composição igualmente brilhante de Pablo de Sarasate.
E você acha que ela se importa de esbanjar patriotismo num momento histórico em que a
imagem dos Estados Unidos é a pior possível no mundo inteiro? Não tô nem aí.
Great Kat é uma deusa e os Estados Unidos são maravilhosos!
A moça está tão exaltada que parece até ter dificuldades para respirar. Então, vamos
falar de um assunto mais ameno: quais as coisas mais legais que os fãs vão encontrar no
DVD Extreme Guitar Shred? Sangue, tortura, abuso, virtuosismo, insanidade, escravos,
adoração a uma deusa, castração e, lógico, a genialidade de Kat tocando violino e
guitarra, vibra ela, voltando a acelerar. Eu torturo machos inferiores em
Torture Chamber, castro homens em Castration para que eles parem de se achar importantes e
os humilho em Dominatrix. Há ainda um clipe ao vivo em Chicago e War, uma resposta de Kat
ao 11 de setembro. Os Estados Unidos foram atacados por terroristas que mataram 3 mil
inocentes e esse vídeo é um recado para avisar que jamais vamos esquecer essa
matança.
Apesar de até o DVD de Great Kat ter curta duração, ela não descarta o lançamento de
um álbum no futuro, inclusive reunindo todos seus EPs e singles em um único disco.
Tudo é possível no neino da deusa Kat. A melhor coisa que os fãs podem fazer é
sempre visitarem meu site para saber as novidades, pois tudo acontece muito rápido na
minha vida, garante ela, ofegante.
Além de mostrar seu talento na música, Kat investe numa imagem sadomasô que a tornou
quase um sex-symbol entre os fãs de seu trabalho. Acooooordem!, berra ela a
plenos pulmões, quase matando o repórter de susto. Entendam uma coisa: Great Kat
é uma instrumentista virtuosa brilhante que precisa ser adorada e idolatrada. Meus fãs
são meus escravos que beijam meus pés e proclamam minha divindade. Eu deixei de ser a
violinista do Juilliard quando me tornei uma deusa da guitarra e fui chamada de um
dos 10 guitarristas mais rápidos de todos os tempos pela revista Guitar One. Eu sou
a reencarnação de Beethoven, sou um messias da música e estou acima da imagem que
vocês vêm nas fotos e na tevê.
E quando você pensa que nem Maracujina com sonífero acalma mais a moça, ela começa a
contar como os fãs encaram essa sexualidade durante seus shows. Quando o show
começa, os escravos se ajoelham e beijam meus pés para reverenciar a onipotência da
deusa Kat, grita ela. Parem de perder tempo levando minhas fotos para o
banheiro, abram sua cabeça para a genialidade musical de Kat, pois isso vai ser muito
mais produtivo do que gastar sua energia com masturbação. Eu sou o último gênio da
música!Ainda falando de sexo, na entrevista de uma década atrás para a Rock
Brigade, Kat berrava que sexo era uma perda de tempo. Será que ela ainda
berra isso hoje em dia? Claro que sim, é uma absoluta perda de tempo.
Sexo para mim é abusar, torturar e humilhar meus escravos, apenas isso, grita ela.
Para finalizar a entrevista, a gente quer saber se algum dia os fãs brasileiros poderão
conferir o famoso show dela ao vivo. Great Kat só toca em shows espetaculares, pois
minha personalidade insana e meu violino selvagemente virtuoso precisam de toda liberdade
para mostrar seu brilho. Além disso, a produção tem que ter aparelhos de tortura,
chicotes e correntes para eu espancar meus escravos. Se vocês querem a Great Kat na
América do Sul, arrumem isso primeiro!, esgoela-se ela, já perto de sofrer um
ataque de coração. Enquanto isso, entrem no meu site, comprem meu DVD e me
idolatrem do jeito que eu mereço!
Amém.
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